sábado, 4 de agosto de 2018
Eu e SP
Feliz 21.04 para mim.
Faz 43 anos que não me lembro mais qual o real motivo que 21.04 se tornou um feriado.
Há 43 anos incluí este dia como importante marco para mim. Foi o dia em que deixei definitivamente minha cidade de origem, a casa de meus pais, o aconchego do meu lar, meus amigos, namorado e vim para esta cidade – São Paulo.
Não sei exatamente o que estava sentindo quando aqui cheguei. Carregava uma pequena malinha azul, com poucas roupas e inadequadas para o clima que aqui encontrei, portanto, no mínimo muito frio eu senti. Aquele Abril de 1975 fazia muito frio em São Paulo.
Sentia um misto de medo tendendo para a ansiedade. Sentia esperança, angústia, saudade e incerteza sobre a decisão tomada, mas muita vontade que desse certo.
Dar certo para mim, não incluía ficar rica ou chegar ao sucesso, dar certo para mim, significava poder estudar o que quisesse e ter independência de qualquer ordem, virar adulto sem exagero de controle e com pouco ou nenhum apoio material enfim, quebrar a cara sozinha.
Minha irmã já vivia aqui em São Paulo e, a vida que ela levava me garantia que era possível atingir meus objetivos.
Ofertas de trabalhos eram abundantes, podia escolher onde queria trabalhar, perto ou longe, empresa grande ou pequena, alguns centavos a mais ou menos, e assim por diante.
Mas, assim como encontrar trabalho era fácil, percebi logo que teria que me organizar quanto a ganhos e gastos então, morar no mesmo pensionato que minha irmã morava (Rua Canuto Do Val - Centro), não era possível para mim.
Foi a primeira mudança aqui em S.Paulo, e a segunda grande mudança para mim, deixava agora, após dois meses de casa nova e ainda insegura, a convivência com minha irmã. Mudei-me daquele endereço e parti para outro mais adequado, mais barato.
Encontramos um novo pensionato (minha amiga e eu), na Rua Barata Ribeiro. Lá era punk, enquanto no primeiro pensionato havia poucas pessoas e mais selecionadas, lá havia muitas meninas, mulheres que, assim como eu, tentavam a vida, cada uma a seu modo.
Era comum, ao chegar a casa à noite, bem tarde em alguns dias após um exausto dia de trabalho e estudos, procurar pelo jantar, pois pagava por pensão que incluía a janta e encontrar o meu prato arroz e feijão já gelados, sem a tal “mistura” pois as outras pessoas, sem qualquer constrangimento comiam as “misturas” antes que eu chegasse. Só sobrava aquele arroz e feijão gelados, afinal o inverno aqui em São Paulo, naquela época, era mais rigoroso que hoje em dia e não tínhamos acesso à cozinha para aquecer a comida.
Bem, não vou dizer quantas outras vezes me mudei aqui em São Paulo, até conseguir morar com minha irmã novamente. Minha melhor amiga mudou-se de São Paulo por motivos de trabalho e assim, mais uma despedida e um novo recomeço emocional.
Só sei que comecei minha relação com São Paulo no centro e, virava e mexia, tendia a voltar para o centro de São Paulo. Acho que voltar ao centro significa encontrar o eixo, o meu próprio centro.
Morei na Saúde depois perto do Zoológico, perto do parque Dom Pedro, no centro em cinco endereços diferentes até meu casamento. Após casamento, mudei menos, mas não tão menos, Recife-PE foi o primeiro endereço, de volta a São Paulo, Chácara Santo Antônio, Ibirapuera com a sogra, Zona Norte 1, Zona Norte 2, mas o centro me chama, me reclama, me comove, me convida e me inspira diariamente.
Se atingi minhas metas e objetivos que havia traçado quando vim para São Paulo?
A resposta é sim, mais do que sim. Meu trajeto foi exatamente o que pensei, em termos emocionais, cheio de altos e baixos, alegrias e tristezas, esperanças e decepções. Encontrei amigos, perdi amigos, chorei muito, mas acho que ri mais.
Estudei e estudo muito e, a cada curso que faço percebo que não sei absolutamente nada, precisaria viver mais umas “trocentos” vidas iguais a esta para poder aprender um pouco mais.
Se me sinto feliz?
Todo mundo é feliz se deixar a tristeza participar da vida e garanto que deixo que as angústias e decepções, tristezas e perdas, e outras emoções indesejadas pela maioria, entrarem quando quiserem na minha vida. A dor faz parte, e este foi meu maior aprendizado.
Aproveito, neste dia comemorativo para mim, para agradecer aquelas pessoas que me impulsionaram e me incentivaram e me acompanharam quando foi possível. Sem eles, a coisa poderia ter sido mais complicada.
Quero te dizer, querido São Paulo, que não te conheço, você para mim é e será um eterno mistério, desisti de tentar te desvendar e talvez por este motivo te amo tanto, tudo em você ainda é um grande mistério.
Adoro opostos, como alimentos quentes e frios juntos, doces e salgados juntos, e talvez, seja exatamente isso que me atrai em São Paulo, aqui os opostos estão em cada esquina, em cada dia, cada minuto. Os contrastes de São Paulo são fascinantes e convivem harmonicamente, são inspirações para que eu consiga conciliar meus próprios contrastes, meus altos e baixos.
O mais legal de tudo isso é que ao amar São Paulo amo ainda mais minhas origens.
(VGP - August 04, 2018)
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