quinta-feira, 18 de abril de 2019

Presente e Futuro - C.G. Jung - Autoconhecimento


Carl Gustav Jung - em Presente e Futuro
A ameaça que pesa sobre o indivíduo na sociedade moderna.
- Página 03


“Normalmente confundimos “autoconhecimento” com o conhecimento da personalidade consciente do eu.  Aquele que tem alguma consciência do eu acredita, obviamente, conhecer a si mesmo.  O eu, no entanto, só conhece os seus próprios conteúdos, desconhecendo o inconsciente e seus respectivos conteúdos.  O homem mede seu autoconhecimento através daquilo que o meio social sabe normalmente a seu respeito e não a partir do fato psíquico real que, na maior parte das vezes, lhe é desconhecido.  Nesse sentido, a psique se comporta como o corpo em relação a sua estrutura fisiológica e anatômica, desconhecida pelo leito.  Embora o leigo viva nela e com ela, via de regra ele a desconhece.  Tem então que recorrer a conhecimentos científicos específicos para tomar consciência, ao menos, do que é possível saber, desconsiderando o que ainda não se sabe, e que também existe.

                O que chamamos de “autoconhecimento” é, portanto, um conhecimento muito restrito na maior parte das vezes, dependente de fatores sociais – daquilo que acontece na psique humana.  Por isso, ele muitas vezes tropeça no preconceito de que tal fato não acontece “conosco”,  “com a nossa família”, ou em nosso meio mais ou menos imediato.  Por outro lado, a pessoa se defronta com pretensões ilusórias sobre suposta presença de qualidades que apenas servem para encobrir os verdadeiros fatos.”

(VGP - April 18, 2019)

Presente e Futuro - C.G.Jung



A ameaça que pesa sobre o indivíduo na sociedade moderna

Carl Gustav Jung 

Livro: Presente e Futuro - Volume X/1
(publicado pela primeira vez em 1957)




                "Quanto maior a multidão, mais “indigno” o indivíduo.  Quando o indivíduo, esmagado pela sensação de sua insignificância e impotência, vê que a vida perdeu sentido – que afinal não é a mesma coisa que bem-estar social e alto padrão de vida – encontra-se a caminho da escravidão do Estado e, sem saber nem querer, se tornou seu prosélito.

 Aquele que só admite olhar a partir de uma perspectiva externa e dos grandes números nada possui que possa defendê-lo do testemunho de seus sentidos e de sua razão.  É precisamente isso que todo mudo faz: deixar-se fascinar e subjugar pelas verdades estatísticas e pelas grandes cifras e ser, diariamente, doutrinado acerca da unidade e impotência da personalidade singular devido a sua incapacidade de representar e personificar uma organização de massa.  Por outro lado, o indivíduo que entre em cena à vista de todos e faz ouvir sua voz às multidões, parece, ao ver do público sem senso crítico, sustentado por determinado movimento de massa ou pela opinião pública, que então o aceita ou combate.  Como, em geral predomina a sugestão de massa, não fica muito evidente se a sua mensagem é dela mesma, pela qual tem responsabilidade pessoal, ou se  funciona apenas como porta-voz da opinião coletiva."

(Presente e Futuro)