terça-feira, 22 de outubro de 2019

Aniversário - 64 anos


Oggi, sessantaquattro anni!
Ficando mais velha hoje.
Nesta idade, o dia do aniversário já sinaliza que o problema vai passando de "médio" para "quase grave", mas ainda falta um pouco para o "muito grave", que é a senilidade total com suas previstas consequências.
É fácil viver a vida como ela se apresenta para nós?
Não, não é!
Ainda que consigamos nos desfazer de todas as projeções, de todas as fantasias e de todas as expectativas, abandonando de vez nossos sapatos de criança, mesmo assim, o enfrentamento é sempre punk.
Mesmo para as personalidades mais afáveis, mais alegres, mais inspiradoras - garanto, não sou nada disso! – a vida segue sendo uma labuta constante.
A vida é a pior professora e a melhor também.
A melhor porque nos disponibiliza todos os aprendizados possíveis, não guarda nada na manga para depois, não nos esconde nada.
É a pior porque as lições, o aprendizado e os resultados das provas são concomitantes. Não temos direito a ensaios, treinos exaustivos ou repetições de exercícios para nos aprimorar antes das apresentações ou exames finais. A vida não está nem aí se já somos ou não maduros para aguentar o tranco.
Simplesmente - Dane-se!
Se estiver vivo está sujeito a todo tipo de prova de resistência de qualquer ordem, algumas vezes físicas outras vezes emocionais e outras tantas vezes tudo junto e misturado.
O aprendizado é a própria apresentação e na maioria das vezes, por não querer errar, nos atropelamos e erramos feio.
A vida não dá chance e tempo para rascunhos, cada segundo é como se fosse a última versão de uma tese de doutorado, já não cabe mais revisão e deverá ser apresentada para uma banca avaliadora demasiadamente crítica e severa.
A constatação mais triste é quanto cai a ficha que os especialistas e técnicos, que nos julgam ou avaliam nossa tese, não são lá tão especialistas ou técnicos como se denominam, ao contrário, podem ser amargos, infelizes e estão, como todos nós, em busca de respostas cujas perguntas nem sabem bem quais são.
Se a vida está passando depressa para mim?
Sim e não.
Queria fazer mais daquilo que já não consigo fazer, e estou de saco cheio de fazer muito do que consigo e não quero mais fazer.
É um tal de “ mais um dia” e em seguida “um dia a menos”, numa contagem quase que "ciclotímica", muitas vezes angustiante pela rapidez com que os dias se vão e outras aliviante, especialmente pela rapidez com que o dia se foi.
Ora quero mais tempo para ter tempo. Ora ter tempo é perder tempo.
Bora lá, esperar e ver o que este ano com seus meses, semanas, dias, horas, minutos e segundos me disponibilizará.
Quantos dias passarão rápidos demais e quantos teimosamente insistirão em ficar mais alguns minutos, será?
Como disse o poeta Rilke :
“Seja paciente em relação a tudo aquilo que não está resolvido em seu coração e... tente amar as próprias questões como quartos trancados e como livros escritos numa língua muito estranha. Não procure pelas respostas, que não podem lhe ser dadas porque você não seria capaz de vivê-las. E o ponto é viver tudo. Viver as questões agora. Talvez então você, pouco a pouco, sem perceber, comece a viver na direção de um dia distante, onde estarão as respostas." (Rilke em Letters to a Young Poet)
Feliz 23 de Outubro de 2019!
 Que hoje eu tenha um lindo dia de trabalho pela frente.  Espero que seja um daqueles dias que uns minutinhos a mais seriam bem vindos.