terça-feira, 2 de junho de 2020

Complexos


"Complexos são constelações específicas de lembranças de experiências e fantasias condensadas, ordenadas em torno de um temo básico semelhante e carregadas com uma forte emoção da mesma qualidade.  Quando, na vida, se toa nesse tema ou nos afetos correspondentes, nos reagimos de maneira complexada, ou seja, enxergamos e interpretamos a situação no sentido do complexo, tornamo-nos “emocionais” e defendemo-nos de modo estereotipado, como já o fizemos sempre.  No âmbito das relações, isto significa que a compreensão mútua é inicialmente interrompida em tal situação.  Os complexos se tornam evidentes em nosso viver e agir, mas também se manifestam em símbolos, acentuando-se, então, o núcleo desses complexos voltado para o futuro.  Segundo Jung, os complexos têm um núcleo arquetípico, ou seja, eles se formam no ponto em que se aborda algo indispensável à vida. 
Complexos são núcleos afetivos da personalidade, provocados por um embate doloroso ou significativo do indivíduo com uma demanda ou um acontecimento no meio ambiente, acontecimento para o qual ele não etá preparado.  Torna-se claro, com essa descrição, que os complexos surgem da interação do bebê, da criança com as pessoas de seu relacionamento.  E a primeira infância é naturalmente uma situação marcante especialmente sensível par ao surgimento dos complexos; contudo, os complexos podem surgir a qualquer momento, enquanto vivemos.
Nessa descrição do surgimento de um complexo, Jung tinha em vista o complexo que causará dificuldades ao indivíduo. Trata-se aqui, naturalmente, do complexo que mais preocupa as pessoas.  Mas também devemos pensar que todas as interações significativas entre a criança e as pessoas de seu relacionamento, todas as interações entre os seres humanos podem se tornar complexadas.  Portanto, estão retratadas nos complexos as interações de relacionamento problemáticas e marcantes, como também, deste modo, as histórias de relacionamento de nossa infância e de nossa vida posterior juntamente com as emoções correspondentes, com as formas de defesa dessas emoções e as expectativas daí provenientes sobre como deve ser a vida, por exemplo.
Uma interação difícil ou portadora de significado entre duas pessoas, em que emoções entram em jogo, instala portanto um complexo.  Todo evento semelhante é então, interpretado de acordo com esse complexo, além de reforça-lo.  Ou seja, as pessoas aprendem que determinadas situações estão sempre ocorrendo, acompanhadas de emoções sempre iguais.  Nos complexos são retratados episódios de nossa vida que se distinguem por uma emocionalidade especial."

(Verena Kast – Pais e Filhas – Mães e Filhos).

June, 02, 2020 - Vanilde G Portillo