quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Medo ou Ansiedade?



Medo ou ansiedade?


“O medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto que a ansiedade é a antecipação de ameaça futura. Obviamente esses dois estados se sobrepõem, mas também se diferenciam, com o medo sendo com mais frequência associado a períodos de excitabilidade autonômica aumentada, necessária para luta ou fuga, pensamentos de perigo imediato e comportamentos de fuga, e a ansiedade sendo mais frequentemente associada à tensão muscular e vigilância em preparação para perigo futuro e comportamentos de cautela e esquiva. Às vezes, o nível de medo ou ansiedade é reduzido por comportamentos constantes de esquiva.” (DSM-V, 2013, p. 230)

Embora o medo e ansiedade possuam manifestações semelhantes, ou seja, os mesmos sintomas físicos são percebidos tanto em situações de medo como de ansiedade, os dois termos não devem ser considerados sinônimos. 
O que difere o medo da ansiedade é que o primeiro consiste na reação física e emocional mediante uma situação externa de perigo real reconhecidamente como tal, pela maioria das pessoas.  Na ansiedade, embora a reação seja semelhante ao medo não há um fato real que seja considerado perigoso pela maioria. A pessoa que sofre com os transtornos de ansiedade considera perigosas determinadas situações as quais, na realidade, não oferece nenhum perigo. Havendo um pensamento ou ideia sobre uma situação sentida como perigosa para aquela pessoa, será o suficiente para que se manifestem os sintomas desagradáveis.

A ansiedade é, portanto, um estado subjetivo e desconfortável cujo motivo é desconhecido. Já o medo ocorre quando há uma origem identificável.
Tanto o medo quanto à ansiedade são entendidos como uma reação útil na medida em que salva nossas vidas, nos protege de perigos e riscos desnecessários.
A ansiedade e o medo são heranças biológicas importantes em nossas vidas, faz parte da natureza humana, pois foram fatores responsáveis pelo desenvolvimento e perpetuação da espécie. A preocupação com os perigos e sua prevenção, na época de nossos ancestrais, contribuíram para a evolução do ser humano. A necessidade de prevenir como proteção faz parte do nosso psiquismo até hoje. 
Embora não vivemos mais como nossos ancestrais e os medos não serem mais adaptativos, os carregamos instintivamente.  Fazem parte de nossa estrutura biológica e psíquica e reagimos de maneira igual diante do que imaginamos ser um perigo.
Se entendermos que algo não é seguro, reagiremos dentro das regras antigas que nos salvaram em épocas remotas, pois estamos programados para agir desta maneira.
 Não avaliamos a real necessidade de tal reação hoje em dia e, é provável que nossa reação seja desproporcional ao evento ocorrido.
Atualmente adaptamo-nos e nos preparamos para enfrentar as adversidades climáticas, nossas casas são mais seguras e confortáveis do que os abrigos de nossos antepassados.  Vivemos mais, pois não necessitamos correr riscos para conseguirmos alimentos como antigamente, não precisamos sair para caçar e enfrentar animais ferozes, entre outras dificuldades que havia na época de nossos ancestrais.  O desenvolvimento social e científico conseguiu resolver problemas básicos de saúde.
Então, a quais situações de perigo estamos reagindo atualmente?
Apesar de todo conforto atual, os estudos indicam que a ansiedade está aumentando e afeta também as crianças que, como consequência altera o ritmo adequado do desenvolvimento.
Podemos sugerir, então que o próprio desenvolvimento tem contribuído para o aumento da ansiedade, na medida em que somos mais exigidos socialmente.  Houve mudanças, ao longo do tempo com relação à maneira como nos relacionamos um com outro e com a sociedade como um todo, acarretando instabilidades antes não existentes.
Estatísticas mostram que, atualmente, cada vez mais pessoas vivem sozinhas sem contar com o apoio familiar (BIP, 2015, p.2). Adolescentes, e até mesmo crianças, são incentivadas a buscarem seus próprios caminhos, porém, a maioria deles, sem apoio adequado.  Os idosos, por sua vez, por estarem vivendo mais acabam ficando sós uma vez que os filhos, devido à vida atribulada de hoje, não tem mais tempo ou paciência para dedicar-lhes atenção necessária. 
Sim, há na sociedade moderna fatores que contribuem com a sensação de instabilidade e insegurança do ser humano, no entanto, a maneira como reagimos a estas demandas são incompatíveis ou desadaptadas. Nosso modo de defesa é incompatível com nosso atual estilo de vida.  Hoje os perigos são muito diferentes daqueles que existiam nos tempos antigos, no entanto ainda conservamos a mesma maneira de defesa que, além de não provocar um resultado positivo, ao contrário, provoca uma situação de desadaptação do próprio sujeito. O mundo passa a ser, cada vez mais, entendido como inseguro e instável.
Toda ansiedade, cuja manifestação apresenta-se desadaptativa, não prestando ao seu papel original, isto é, que está a serviço de um comportamento inadequado, merece ser tratada.
(VGP – August 16, 2018)

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