Medo ou ansiedade?
“O medo é a resposta emocional a ameaça
iminente real ou percebida, enquanto que a ansiedade
é a antecipação de ameaça futura. Obviamente esses dois estados se sobrepõem,
mas também se diferenciam, com o medo sendo com mais frequência associado a
períodos de excitabilidade autonômica aumentada, necessária para luta ou fuga,
pensamentos de perigo imediato e comportamentos de fuga, e a ansiedade sendo
mais frequentemente associada à tensão muscular e vigilância em preparação para
perigo futuro e comportamentos de cautela e esquiva. Às vezes, o nível de medo
ou ansiedade é reduzido por comportamentos constantes de esquiva.” (DSM-V,
2013, p. 230)
Embora o medo e ansiedade possuam manifestações
semelhantes, ou seja, os mesmos sintomas físicos são percebidos tanto em
situações de medo como de ansiedade, os dois termos não devem ser considerados
sinônimos.
O que difere o medo da ansiedade é que o
primeiro consiste na reação física e emocional mediante uma situação externa de
perigo real reconhecidamente como tal, pela maioria das pessoas. Na ansiedade, embora a reação seja semelhante
ao medo não há um fato real que seja considerado perigoso pela maioria. A
pessoa que sofre com os transtornos de ansiedade considera perigosas
determinadas situações as quais, na realidade, não oferece nenhum perigo.
Havendo um pensamento ou ideia sobre uma situação sentida como perigosa para
aquela pessoa, será o suficiente para que se manifestem os sintomas desagradáveis.
A ansiedade é, portanto, um estado subjetivo
e desconfortável cujo motivo é desconhecido. Já o medo ocorre quando há uma
origem identificável.
Tanto o medo quanto à ansiedade são
entendidos como uma reação útil na medida em que salva nossas vidas, nos
protege de perigos e riscos desnecessários.
A ansiedade e o medo são heranças biológicas
importantes em nossas vidas, faz parte da natureza humana, pois foram fatores
responsáveis pelo desenvolvimento e perpetuação da espécie. A preocupação com
os perigos e sua prevenção, na época de nossos ancestrais, contribuíram para a
evolução do ser humano. A necessidade de prevenir como proteção faz parte do
nosso psiquismo até hoje.
Embora não vivemos mais como nossos
ancestrais e os medos não serem mais adaptativos, os carregamos
instintivamente. Fazem parte de nossa
estrutura biológica e psíquica e reagimos de maneira igual diante do que
imaginamos ser um perigo.
Se entendermos que algo não é seguro,
reagiremos dentro das regras antigas que nos salvaram em épocas remotas, pois
estamos programados para agir desta maneira.
Não
avaliamos a real necessidade de tal reação hoje em dia e, é provável que nossa
reação seja desproporcional ao evento ocorrido.
Atualmente adaptamo-nos e nos preparamos para
enfrentar as adversidades climáticas, nossas casas são mais seguras e
confortáveis do que os abrigos de nossos antepassados. Vivemos mais, pois não necessitamos correr
riscos para conseguirmos alimentos como antigamente, não precisamos sair para
caçar e enfrentar animais ferozes, entre outras dificuldades que havia na época
de nossos ancestrais. O desenvolvimento
social e científico conseguiu resolver problemas básicos de saúde.
Então, a quais situações de perigo estamos
reagindo atualmente?
Apesar de todo conforto atual, os estudos
indicam que a ansiedade está aumentando e afeta também as crianças que, como
consequência altera o ritmo adequado do desenvolvimento.
Podemos sugerir, então que o próprio
desenvolvimento tem contribuído para o aumento da ansiedade, na medida em que
somos mais exigidos socialmente. Houve
mudanças, ao longo do tempo com relação à maneira como nos relacionamos um com
outro e com a sociedade como um todo, acarretando instabilidades antes não
existentes.
Estatísticas mostram que, atualmente, cada
vez mais pessoas vivem sozinhas sem contar com o apoio familiar (BIP, 2015,
p.2). Adolescentes, e até mesmo crianças, são incentivadas a buscarem seus
próprios caminhos, porém, a maioria deles, sem apoio adequado. Os idosos, por sua vez, por estarem vivendo
mais acabam ficando sós uma vez que os filhos, devido à vida atribulada de
hoje, não tem mais tempo ou paciência para dedicar-lhes atenção
necessária.
Sim, há na sociedade moderna fatores que
contribuem com a sensação de instabilidade e insegurança do ser humano, no
entanto, a maneira como reagimos a estas demandas são incompatíveis ou
desadaptadas. Nosso modo de defesa é incompatível com nosso atual estilo de
vida. Hoje os perigos são muito
diferentes daqueles que existiam nos tempos antigos, no entanto ainda
conservamos a mesma maneira de defesa que, além de não provocar um resultado
positivo, ao contrário, provoca uma situação de desadaptação do próprio
sujeito. O mundo passa a ser, cada vez mais, entendido como inseguro e
instável.
Toda ansiedade, cuja manifestação
apresenta-se desadaptativa, não prestando ao seu papel original, isto é, que
está a serviço de um comportamento inadequado, merece ser tratada.
(VGP – August 16, 2018)
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