terça-feira, 14 de agosto de 2018

Carta ao Ex Namorado




Eu amei muito você.

Nosso tempo juntos foi longo para os padrões atuais e curto demais para os mais antigos.
Você foi meu primeiro amor e você sabe bem o que isso significa, não é mesmo? Afinal você já havia tido essa deliciosa experiência, não comigo.
Quando eu pensava em uma possível separação após uma briguinha, ficava sem ar, não conseguia respirar de tanto medo de te perder.
Não conseguia me ver sem você.
Você era meu tudo.
Quando enfim, você se foi para sempre, fiquei realmente perdida e sem rumo.
Demorei meses para entender que você não voltaria mais.
No início entrei em negação e acordava no meio da noite como quem acorda no meio de um pesadelo. Por alguns segundos respirava aliviada porque pensava que fora mesmo um pesadelo, mas não, rapidamente vinha a lucidez e me jogava dentro de um pesadelo real, vivo e assustador.
Por meses perturbei o sono e a tranquilidade das pessoas queridas próximas, que não hesitaram em me acolher.  Mudaram suas rotinas e seus compromissos  para me abraçar e secar minhas lágrimas.
Procurei-te, implorei, mais do que uma vez, duas, três, perdi a conta de quantas vezes me humilhei.
Fui rejeitada das mais odiosas formas possíveis.  Fui dispensada como um lixo que não se recicla.  Ainda assim, naqueles meses, voltaria para você sem pestanejar, mas você não me deu oportunidade, apenas me rejeitou, virou rapidamente a página e trocou de livro com a mesma velocidade com que me desprezou.

Hoje, estou refeita, adorando minha solteirice.
 Com a ajuda das pessoas que realmente me amam não me envolvi com ninguém enquanto chorava por você, não estava pronta e não era justo com o Outro.   Precisava me achar novamente, precisava me reencontrar, pois havia me perdido de mim mesma há muito tempo.
Não me perdi com sua perda, já havia me perdido em você durante nosso relacionamento.  Há algum tempo não sabia mais quem eu era, pois não havia espaço para mim no nosso relacionamento.   Era somente você, seus desejos, seus quereres, seus amigos.
Não, não estou te culpando por isso não, eu sei que ceder aos seus caprichos e me anular foi acontecendo lentamente, eu não conseguia perceber e nem me perceber.
O que importava para mim era estar com você.
Meus queridos te amaram junto comigo e sofreram duplamente, por mim, pela minha dor e pela dor deles mesmos.
Quando desisti de lutar por você não foi por escolha não, foi porque não havia mais forças. O corpo, a mente, o coração desistiram por mim.
Sim, hoje estou inteira e reconheço meus erros o suficiente para entender que não justificam tamanho desprezo de sua parte.
Este processo de aceitação e reconhecimento dos erros foi muito importante para mim, foi libertador.
Não foram meus “erros” que te mandaram embora, e sim o DESAMOR que você sentia por mim.
Foi dolorido aceitar isso também, mas foi necessário e reparador.
Hoje posso te dizer, sem medo de cair no exagero, que te acolhi e te aguentei em momentos bem difíceis, não é mesmo? 
Isso só me engrandece, sabia?
De você não quero absolutamente nada, nem mesmo reconhecimento.  Isso já não faz mais diferença para mim.
Aprendi também que não devo jamais insistir num namoro onde não se construiu uma história, ou quando apenas eu a tenha construída.
Confesso que não te esqueci, claro, isso jamais irá acontecer você fez parte da minha vida e uma parte importante, apenas te tirei da minha área de trabalho, está num arquivo de difícil acesso, o qual precisa de esforço para resgatar e, como não há motivos para isso, ficará lá e lá adormecerá eternamente.
A certeza de hoje é que  “Sou mais eu e dou empate”, posso ser muito feliz comigo mesma.
Adeus

(VGP - August 14, 2018)

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