domingo, 12 de agosto de 2018

Saudade, esta senhora amargurada



O amado disse adeus.

Quando perdemos nosso “objeto” de afeto  como  namorado, marido ou mesmo um amigo chegado, a saudade aparece e, nem sempre esta visita indesejada, esta senhora sombria é somente do amado que se foi, mas também de todas as projeções que estavam presentes no  relacionamento.
Às vezes sentimos saudades daquilo que foi planejado, sonhado e fantasiado durante o relacionamento e nem sempre foi vivido.  Quando pensamos, planejamos ou fixamos metas,  investimos ali uma quantidade razoável de energia . Gastamos tempo, acreditamos que nossos desejos serão realizados e esperamos por isso.
Por vezes o relacionamento já não estava tão bom, mas quando chega ao final, a dor da perda  e a saudade é intensa.  A pessoa não chora apenas pelo amor perdido, mas por todos os “penduricalhos” emocionais que constelavam aquela relação.
O ser amado foi embora, terminou ali um sonho, uma fantasia, uma ideia ou um pensamento.  A saudade vem como um raio, a pessoa nem bem acabou de sair pela porta da sala e a saudade entrou pela área de serviço.  Até parece que estava à espreita, esperando para preencher o vazio que certamente aparecerá.

A saudade, essa dor muito doída não espera ser convidada e nem anunciada, não toca a campainha, vai logo entrando e ocupando o espaço que, nem você mesma percebeu existir.  Aconchega-se como se fosse dona de tudo e estava cansada de ficar fora de cena, apressa-se para atuar.
A saudade não escolhe lugar, nem hora e não está nem aí com a qualidade do objeto de afeto perdido, pois, nem sempre a “saudade é da pessoa em si”, mas de algo que  aquela pessoa representa em nossa vida.
Muitos de nossos planos para o futuro e nossos sonhos estão envoltos no relacionamento ou  somente fazem sentido se fantasiados com alguém, como casamento e filhos ou até uma simples viagem, logo ali no feriadão que se aproxima.
Então quando alguém que carregava essa carga de projeções, de sonhos ou fantasias, simplesmente põe para funcionar seus anseios por liberdade,  compulsoriamente mas temporariamente,  diga-se de passagem, devemos dar adeus aos nossos sonhos, em prol dos sonhos do outro.
Sem pressa para ir embora, ao contrário do amado, a saudade  penetra em cantinhos que desconhecíamos e dói como doem nossos músculos no início de atividades físicas após longos períodos de inatividade.
Viramos de um lado para outro em nossa cama e ajeitamos o travesseiro,  mas não adianta, aquela dor que não sabemos direito onde é, continua ali.  Podemos mudar de posição quantas vezes acharmos necessário mas a dor  parece caminhar pelo corpo todo, não tem jeito nem lado que melhore.
A ansiedade, angustia e a tristeza são despertadas de um longo período de hibernação e famintas, se aliam à saudade para completar um quadro de falência de nossas mais poderosas defesas. 
É hora de recolhimento e passar a limpo todas as projeções que constelaram o relacionamento e sem reservas entregar-se ao luto.
A saudade faz parte, mas acredite, nos momentos iniciais ela mascara  ou supervaloriza o relacionamento como também o ser amado que se foi.
Esta é a saudade, uma senhora sombria e amargurada que quer companhia e faz um lindo verão se transformar em um inverno rigoroso.
(VGP – August 12, 2018)

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