O amado disse adeus.
Quando perdemos nosso “objeto” de afeto como namorado, marido ou mesmo um amigo chegado, a
saudade aparece e, nem sempre esta visita indesejada, esta senhora sombria é somente do amado que se foi, mas também de
todas as projeções que estavam presentes no relacionamento.
Às vezes sentimos saudades daquilo que foi planejado,
sonhado e fantasiado durante o relacionamento e
nem sempre foi vivido. Quando pensamos,
planejamos ou fixamos metas, investimos
ali uma quantidade razoável de energia . Gastamos tempo, acreditamos que nossos
desejos serão realizados e esperamos por isso.
Por vezes o relacionamento já não estava tão bom, mas quando
chega ao final, a dor da perda e a
saudade é intensa. A pessoa não chora
apenas pelo amor perdido, mas por todos os “penduricalhos” emocionais que
constelavam aquela relação.
O ser amado foi embora, terminou ali um sonho, uma fantasia,
uma ideia ou um pensamento. A saudade
vem como um raio, a pessoa nem bem acabou de sair pela porta da sala e a
saudade entrou pela área de serviço. Até
parece que estava à espreita, esperando para preencher o vazio que certamente
aparecerá.
A saudade, essa dor muito doída não espera ser convidada e nem anunciada, não toca
a campainha, vai logo entrando e ocupando o espaço que, nem você mesma percebeu
existir. Aconchega-se como se fosse dona
de tudo e estava cansada de ficar fora de cena, apressa-se para atuar.
A saudade não escolhe lugar, nem hora e não está nem aí com
a qualidade do objeto de afeto perdido, pois, nem sempre a “saudade é da pessoa
em si”, mas de algo que aquela pessoa
representa em nossa vida.
Muitos de nossos planos para o futuro e nossos sonhos estão
envoltos no relacionamento ou somente fazem sentido se
fantasiados com alguém, como casamento e filhos ou até uma simples viagem, logo ali
no feriadão que se aproxima.
Então quando alguém que carregava essa carga de projeções,
de sonhos ou fantasias, simplesmente põe para funcionar seus anseios por
liberdade, compulsoriamente mas
temporariamente, diga-se de passagem,
devemos dar adeus aos nossos sonhos, em prol dos sonhos do outro.
Sem pressa para ir embora, ao contrário do amado, a saudade penetra em cantinhos que desconhecíamos e dói
como doem nossos músculos no início de atividades físicas após longos períodos
de inatividade.
Viramos de um lado para outro em nossa cama e ajeitamos o
travesseiro, mas não adianta, aquela dor
que não sabemos direito onde é, continua ali.
Podemos mudar de posição quantas vezes acharmos necessário mas a dor parece
caminhar pelo corpo todo, não tem jeito nem lado que melhore.

É hora de recolhimento e passar a limpo todas as projeções
que constelaram o relacionamento e sem reservas entregar-se ao luto.
A saudade faz parte, mas acredite, nos momentos iniciais ela
mascara ou supervaloriza o relacionamento
como também o ser amado que se foi.
Esta é a saudade, uma senhora sombria e amargurada que quer
companhia e faz um lindo verão se transformar em um inverno rigoroso.
(VGP – August 12, 2018)
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